Saiba quais são as medidas do governo para baratear carros populares

Você já deve ter ouvido falar de que o governo estava estudando possibilidades de barateamento dos preços dos carros populares, certo? A medida até então divulgada busca auxiliar o consumidor a adquirir um veículo novo próprio e a indústria a ter mais saídas de seus estoques.
Atualmente, o valor mínimo para adquirir um carro novo popular gira em torno de R$ 60 mil. Quando avaliamos o poder de compra da maioria dos brasileiros com o preço de um carro popular é perceptível que a conta não fecha.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), em 2022, 70% dos profissionais com carteira assinada ganhavam no máximo dois salários mínimos. Isso representa 67,19% de trabalhadores formais recebendo menos de R$ 2.500.
Apenas com esse dado, sem levar em consideração a média de ganho dos trabalhadores informais, já é possível perceber que o valor mínimo de um carro popular hoje está fora da realidade de muitos brasileiros.
Em uma conta simples, imagine o seguinte cenário: uma pessoa que ganha R$ 2.500 por mês deseja comprar um carro popular. Para alcançar este objetivo, essa pessoa se organizaria financeiramente com base no método 50-30-20, recomendado pelo Serasa, em que 20% do salário é destinado a realizar algum projeto pessoal ou sonho.
O montante guardado para realizar essa aquisição, portanto, será de R$ 500, ou seja, serão necessários 120 meses (ou 10 anos) para que essa pessoa tenha o valor de R$ 60 mil.
É claro que não estamos considerando possíveis rendimentos da poupança ou aplicação em investimentos, o que, com certeza, faria esse tempo diminuir. Porém, não é um cenário tão distante do real, levando em consideração que 58% dos brasileiros não possuem investimentos, dado da Pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em 2018.
Por isso, a pergunta que fica é: será mesmo que é possível baratear os custos dos carros populares para que a população brasileira tenha mais acesso? Continue aqui para entender tudo sobre a medida do governo.
Entenda o contexto
Seguindo a linha dos dados já apresentados anteriormente é esperado que, com a falta de consumidores, o setor automotivo não apresente números extraordinários de crescimento.
E é exatamente isso que ocorreu quando Márcio de Lima Leite, atual presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), anunciou no começo deste ano a projeção de crescimento do segmento, que ficou em apenas 4%.
O atual Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, também já havia reclamado sobre os preços dos carros populares no país. Durante o Conselho de Desenvolvimento, Ecônomico e Social que aconteceu em maio, Lula questionou “A fábrica de automóveis não está vendendo bem, mas qual pobre pode comprar um carro popular de R$ 90 mil?”.
Já Paulo Cardamone, presidente da Bright Consulting, especializada no mercado automobilístico, explicou que o Brasil já chegou a produzir cerca de 3,8 milhões de veículos em um ano, porém, hoje, esse número estagnou em uma faixa de 2 milhões de automóveis.
Entenda a medida do governo para baratear carros populares
A contribuição tributária do setor automotivo já foi muito grande e para recuperar esse potencial o governo foi atrás de medidas para incentivar a queda dos preços dos carros populares.
No final do mês de maio, após uma reunião com o Lula, Fernando Haddad (PT) e representantes da indústrias automobilística, Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, afirmou, que o governo reduzirá os impostos federais dos carros de até R$ 120 mil.
Além disso, anunciou que haverá a disponibilização de uma linha de crédito de U$ 4 bilhões para financiamento de exportações pelo BNDES, abrangendo a indústria como um todo e não apenas a automotiva.
O indicador de redução ainda não foi oficialmente divulgado, mas o que sabemos é que a porcentagem do desconto terá três critérios como base: social, eficiência energética e densidade industrial. Na prática, significa que carros menos poluentes, que gastam menos combustível, são mais baratos e/ou possuem mais peças nacionais em sua formação, receberão mais descontos.
O impacto esperado do governo com essa medida é uma redução de 1,5% a 10,79% nos preços dos carros populares.
O que os analistas dizem
No cenário geral é entendido que a redução dos impostos realmente vai baratear o preço dos carros com potencial de aumento das vendas deste produto.
Paulo Cardamone, presidente da Bright Consulting.
Já Antonio Jorge Martins, coordenador acadêmico dos cursos da área automotiva na Fundação Getúlio Vargas (FGV), alerta que apenas a redução do imposto não é suficiente, mas propõe que garantir melhores condições de obtenção de financiamento pode auxiliar nos resultados. Martins também fala sobre o impacto do ICMS, o imposto estadual que mais impacta no valor dos automóveis:
“Eu não sei exatamente do entendimento do governo federal com os Estados no sentido de propiciar também a redução do ICMS, mas acredito, inclusive, que a redução desse imposto seria mais relevante do que os impostos federais.”.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que apesar da redução, a volta de carros populares nos moldes antigos não deve ocorrer. Isso porque os veículos atuais apresentam tecnologia, segurança, inovação e conforto superiores aos produzidos na época de ouro do setor automotivo.
“O carro popular antes se caracterizava por um baixo nível de segurança e opções bastantes reduzidas de conforto e tecnologia. Não é mais possível usar esse termo – o que teremos daqui para frente são ‘carros de entrada'”, afirma Martins.
Você ouviu falar do saque do FGTS?
Junto à medida anunciada pelo governo, houve um estudo para que o FGTS fosse parte do plano de reaquecimento do setor automotivo. A informação era de que seria possível realizar um saque de até 15% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para ajudar na compra de carros populares.
Porém, segundo a apuração do Metrópoles essa ideia foi descartada por resistência dentro do governo. Isso porque a realização dos saques do FGTS são previstos em lei em determinadas situações como demissão por justa causa, compra do imóvel próprio ou doença grave do profissional ou dependente.
O futuro dos carros populares
O mercado automotivo está em constante transformação, o preço não é o único indicador de mudança, mas a própria fabricação, que agora conta com muito mais tecnologia no processo.
Inclusive, o termo “carros populares” está começando a ser discutido e redefinido justamente por seus processos mais refinados. A segurança, pegada ambiental, inovação, tecnologia e atributos dos carros de hoje em dia são muito superiores comparados a tempos mais antigos. E, se antigamente o preço inicial de um carro popular era de R$ 40 mil, hoje o valor subiu para R$ 60 mil como pudemos ver ao longo desse artigo.
Acompanhar todas essas mudanças é muito importante tanto para os profissionais do segmento, que poderá realizar decisões mais estratégicas na hora de contratar fornecedores, como para os motoristas que precisam se preparar e se planejar para comprar um carro novo.
E, claro, a Metagal já separou um conteúdo relevante para você continuar nessa jornada de conhecimento! Leia na íntegra “O fim da era dos carros populares” e entenda ainda mais as mudanças desse setor.